Uma Abordagem Alternativa à Condução Defensiva
(por Nuno Zeferino)
Na maioria das vezes, pensamos que basta apenas ter atenção com a nossa condução, contudo, se não tivermos em conta os outros intervenientes na estrada, as coisas podem não correr bem como desejamos. O objetivo da condução defensiva é prevenir acidentes, ou seja, iniciar a viagem e terminá-la sem qualquer contratempo. Ter ou não ter culpa não é, definitivamente, a questão, ao contrário do que dizia o famoso dramaturgo da idade média.
Uma viagem segura é uma viagem em que tenhas alta garantia que o percurso é feito sem nenhum percalço e para isso precisas de ter uma viatura à altura. Passar na inspeção é o mínimo, mas há muitos outros fatores que não podem ser vistos na inspeção e não é por isso que são menos importantes. Como sabes, só existem 4 pontos que unem o automóvel à estrada: os pneus. A experiência diz-nos que quanto melhor for a qualidade da borracha, bem como o estado de conservação e integridade do pneu, mais seguro um veículo é.
Travões em bom estado (testados em condições reais de operação), bem como todos os elementos de suspensão e direção, são críticos no que respeita à segurança de qualquer viatura. No entanto, não devemos esquecer que qualquer falha no motor ou na caixa de velocidades pode colocar várias pessoas em perigo, por exemplo, numa situação de ultrapassagem.
É muito fácil ver, pelas estradas fora deste país, que a base de uma condução conscienciosa é frequentemente ignorada e, quando falamos em base, estamos a referir-nos à nossa postura ao volante. Uma boa posição é aquela que te permite reagir rapidamente e com precisão, e não aquela que tens no sofá lá de casa. Do que te vale estar atento se, por exemplo, a posição das mãos no volante não te permite reagir rapidamente e com a precisão que é exigida?
Antes de conduzir, verifica os 3 pontos-chave:
Estar à distância certa dos pedais faz com que tenhas o máximo controlo e prontidão em caso de uma travagem de emergência. Já o correto movimento dos teus braços permite-te mudar o ângulo de direção das rodas de forma rápida e eficiente. Muitos acidentes acontecem porque os condutores se auto-limitam colocando os braços no ângulo errado, não tirando assim partido da aderência ou outras capacidades do seu veículo.
Por fim, o último ponto, evita que as lesões tanto na cervical como cranianas sejam piores, em caso de acidente. Por isso, vale a pena investir 5 segundos do teu início de viagem para verificares se o encosto de cabeça está no sítio certo.
Como em tudo no universo, os carros também têm os seus limites. Um deles é a aderência que os pneus têm à estrada. Sem mergulhar muito a fundo na teoria de slip angles e afins, o mais importante é termos em conta, permanentemente, qual é o nível de aderência que temos por baixo de nós. Considerando que o topo da aderência do teu automóvel em condições ideais (estrada recentemente pavimentada, limpa, seca e a uma temperatura amena) é de 100%, temos de ter em conta que, por exemplo, pisos mais desgastados podem oferecer-nos apenas 50% da aderência ideal.
Por outro lado, embora travar num piso molhado em muito bom estado não afete consideravelmente a aderência, o mesmo não acontece quando estás a uma velocidade mais elevada, existindo assim maior probabilidade de aquaplaning (aquaplaning é quando os teus pneus deixam de estar em contacto direto com o chão devido a lençóis de água). Tem em atenção que alguns pisos mais polidos, quando molhados, mesmo a baixas velocidades, podem ter apenas 10% da aderência, o que significa que a tua distância de travagem aumenta 10 vezes!
As distrações fazem com que a nossa condução seja potencialmente perigosa. Hoje em dia, as viaturas estão cada vez mais confortáveis e tão evoluídas que nos dão a sensação que se conduzem sem qualquer esforço. Atendendo que conduzir está cada vez mais acessível a todos, é fácil cair em tentação de enviar uma mensagem no nosso smartphone, enquanto vamos a conduzir. Sendo que, por vezes, não refletimos sobre o impacto que esse ato pode ter na nossa segurança e na daqueles que estão à nossa volta. Mesmo estando a conduzir a uns meros 60 km/h, o facto de tirarmos os olhos da estrada por 2 segundos (onde se percorre quase 20 metros de olhos “fechados”) pode originar graves acidentes e levar à morte de inocentes. Por isso, nunca é demais relembrar que todo a atenção à estrada é pouca.
A antecipação é a chave para iniciar e terminar uma viagem em segurança. Nada do que já vimos até aqui seria eficaz se não dermos ênfase ao fator antecipação. Pessoalmente, enquanto conduzo, faço uma leitura quase completa de todo o meio ao meu redor. Tenho a certeza que todos os acidentes causados por falha humana podem ser evitados. Contudo, isto não é possível se não anteciparmos os movimentos dos outros utentes da via pública.
Precisamos de ter em atenção que alguém distraído pode causar-nos grandes contratempos, invalidez permanente ou até a morte. É, reciprocamente, o nosso dever delinear a nossa condução de acordo com os demais na via pública.
Em suma, podes considerar-te o melhor condutor do mundo (quem não o acha?), mas isso será difícil se não tiveres em atenção o que te dissemos anteriormente. Já sabes: se não queres morrer a conduzir põe em prática estes 5 passos para garantires que chegas ao teu destino, tu e o teu carro, com a mesma forma em que iniciaste a viagem.