Nos dias que correm, qualquer evento ou corrida de desporto motorizado é composto por regras rígidas. Regras essas, que as marcas e pilotos devem seguir pelo bem do desporto e fair-play entre equipas. A questão é que essas regras, para criar um desporto igual para todos, podem ser a ruína do mesmo.
Um dos maiores exemplos disso mesmo é a categoria LMP1 nas corridas de endurance como a de Le Mans. Os protótipos LMP1, jóia da coroa de Le Mans, enfrentam agora problemas graves relacionados com custos e regras demasiado rígidas.
Custos elevados na manutenção e criação dos vários protótipos (seguindo as regras), levam as marcas a não arriscar o seu capital em desportos motorizados. Para as marcas privadas mais pequenas, de menor capital, que se focam apenas em desenhar e construir automóveis de alta competição, os elevados custos são ainda mais pesados para a sua (relativamente) pequena estrutura.
Mais: o maior problema são as regras. Para manter todas as viaturas competitivas, há regulamentos que limitam tamanho, peso, motorização, formato da carroceria, entre outros parâmetros das viaturas. E quando essa mesma extensa lista de regras é aplicada a todas as equipas, é de esperar que todos os participantes comecem a ficar muito parecidos. Para alguém que não acompanhe o desporto com fervor, todos os carros parecem até mesmo iguais tirando as cores e publicidade.
E isso gera um problema adicional: todo o lado emocional do desporto desaparece. A paixão de ver as várias marcas com as suas várias máquinas de sons e formatos diferentes, desaparece. É só mais um protótipo igual aos outros, com o mesmo motor.
É aqui que a Peugeot entra com o 9x8. Nas recentes categorias, LMh e LMdh, as regras são mais flexíveis para que as marcas possam experimentar novos formatos, com as suas novas tecnologias híbridas. É também uma tentativa da produção de Le Mans, mentalizar os fãs que os “híbridos são fixes, porque são diferentes”. Regras mais simples permitem às marcas mais margem de experimentação e, por conseguinte, mais diferença entre todos os participantes.
E, numa era onde downforce é tudo, e onde todos os protótipos têm o mesmo aileron traseiro, a Peugeot participa em Le Mans com uma viatura sem asa traseira. E é logo isso que nos “choca” no 9x8. As marcas têm agora a possibilidade de escolher qualquer motorização (desde que seja híbrida) e qualquer tipo de motor elétrico. Podem escolher se querem V6, V8, V10, V12, todos com ou sem turbo, motores eléctricos apenas nas rodas da frente, apenas nas de trás, motores eléctricos que trabalham em conjunto com o motor a combustão ou que trabalham em exclusivo até uma velocidade especifica. A escolhe é enorme.
E esta variedade leva a que as marcas tenham uma maior diferença entre si. Diferença essa, que promove reações variadas nos fãs. Mas são essas reações diferentes que contradizem o “sameness” de anos passados. Há mais do que uma forma de carroceria, há mais do que um som, mais do que uma simples asa traseira. E, não sendo tão rápidos quanto os seus protótipos antecessores, são mais rápidos do que a classe GT abaixo. As categorias LMh e LMdh prometem batalhas contentes durante toda a corrida.
A endurance dos tempos de ouro passados pode voltar, desta vez com novas tecnologias, novos looks e com novos sons, tudo graças à ausência de uma asa traseira de um Peugeot.