Trackday: Os 7 passos para começares a conduzir nas pistas
Por: Nuno Zeferino, PKE Automotive
Os Trackdays são a forma mais barata de correr em pista. Este artigo é um guia rápido para começares a conduzir nas pistas, de uma forma segura e acessível, para que tires o melhor que o teu carro tem para te dar. Não estás convencido? Vê o que podes aprender nos próximos minutos:
O que é um Trackday?
E o que é esta coisa de Trackday? Ora, é um evento durante o qual podemos conduzir as nossas viaturas no limite de uma forma relativamente segura, não correndo riscos não controlados nem colocando outros em perigo, quando comparamos com a mesma condução na via pública, entenda-se.
Quais as vantagens de levar o meu carro ao limite numa pista vs limite na via pública?
Quanto mais potente e quanto maior é o nível de aderência que um automóvel tem, mais perigoso é explorar os seus limites em estrada.
Por outras palavras, em pista, eu tenho a vantagem de saber o que se passa para além do limite de aderência com alguma segurança: não só tenho espaço para "ir apanhar" o carro, como não há trânsito em contra-mão, não há peões nem animais no meio da estrada e, se as coisas não correrem como esperado, ainda há uns bons metros de gravilha até a carroçaria adquirir uma nova forma. Podem ser coisas pequenas, mas que fazem toda a diferença!
Material necessário para o teu primeiro Trackday
Para conduzir num Trackday, para além da habilitação de conduzir em estrada:
Preparação da tua viatura
Os veículos que circulam nas estradas têm que cumprir requisitos diferentes daqueles que são exigidos na pista. Assim, quando um carro de estrada é colocado em pista, é garantido que, pelo menos, tanto os travões como os pneus vão trabalhar para lá do seu patamar ideal de temperatura, ou seja, não só sofrem imenso com a utilização, como, principalmente os travões, serão os primeiros a limitar o divertimento em pista.
A solução é fazer um rápido upgrade aos travões, onde, na maioria dos casos, basta umas pastilhas e fluido de travões mais apropriados. Em relação aos pneus, sob pena de ainda os ter para regressar a casa, é recomendável calçar o menino com pneus de tipo semi-slick. A maioria destes pneus ainda é legal para circular em estrada e proporciona uma integridade do seu piso sobejamente superior.
O evento típico de Trackday
Tudo se inicia com a inscrição, mas o ideal é começar a preparação com calma. 1 a 2 meses de antecedência é o recomendado.
O acordar cedo pode ser a pior parte deste dia, pois os Trackdays costumam começar com as galinhas, de modo a aproveitar bem a luz do dia. À chegada há o check in, onde são entregues todas as credenciais, sem esquecer o obrigatório briefing com os pilotos. Reforço que tudo deve ficar preparado de véspera, incluído o depósito atestado.
Normalmente, os participantes são divididos por 3 a 5 grupos de 35 a 45 carros, e a pista está aberta exclusivamente para um grupo de cada vez. A duração de cada sessão é de, tipicamente, 20 minutos.
Comportamento em pista
Para que o dia seja de divertimento, há regras às quais todos têm de obedecer. Estas regras são dadas no briefing. Atenção que muitos condutores ficam amnésicos quando estão aos comandos das suas máquinas e pensam que um Trackday é uma prova de competição. Quando identificarem um destes, deixem-no passar e assim garantem que se divertem até ao final do dia.
Como referi acima, devemos comportar-nos com respeito. Um Trackday não é uma competição. Nem uma prova de tempos. E não se trata de saber quem ultrapassa mais carros em frente aos amigos que estão no muro das boxes. Num Trackday, cedemos passagem a um carro mais rápido; num Trackday, antecipamos comportamentos e somos vistos, por exemplo, numa manobra de ultrapassagem. Num Trackday, divertimos-nos e fazemos para que os outros também se divirtam.
Melhorar a técnica
Com a experiência vem a necessidade natural de melhorar a nossa técnica. Assim, uma das formas de medir a nossa evolução é através do tempo por volta. Existem aparelhos que medem a nossa prestação via GPS, mas, nunca é demais dizer, os restantes utentes da pista são mais importantes que o tempo daquela volta.
Um curso de condução irá fazer-te não só mais rápido, mas também mais seguro e garantir-te-á um dia muito mais divertido.
Por conseguinte, travar um pouco mais tarde para a curva, prolongar a travagem retirando pressão no pedal à medida que nos aproximamos do apex, conduzir de forma suave para que os 4 pneus trabalhem de modo uniforme e por todo o percurso da curva, acelerar de forma progressiva e antecipar tendências do comportamento da viatura, são alguns dos pontos que são ensinados nestes cursos.
Aqui, a aprendizagem é garantidamente divertida!
Conclusão
Não tenho nenhuma dúvida que para conhecermos bem um carro temos de o levar à pista. Não só pelo gozo que dá, mas também pela vantagem que nos dá numa manobra de emergência que podemos ter que fazer. Faz de nós melhores pessoas, pois aprendemos a respeitar os outros, faz de nós consultores mais atentos, mais seguros, mas principalmente faz de nós pessoas mais realizadas, mais felizes!
Extra: A minha experiência em pista
É da minha experiência que resulta este guia intitulado “Trackday: Os 7 Passos Para Começares a Conduzir Nas Pistas”.
Desde cedo que sou um "maluquinho" dos carros. Às vezes, mesmo sem as aspas...
Aos 5 anos, partia os dentes a brincar com carrinhos de Lego, enquanto aos 12 anos já ensaiava o ponto de embraiagem no Fiat 127 da minha Mãe. Até ela descobrir, claro. No final de 1994 estava no paraíso, na faculdade rodeado dos restantes "maluquinhos" que nunca tinha encontrado na vida e, não menos importante, encontrava-me finalmente a tirar a carta de condução.
Em 1995, ano em que fazia 19 anos de idade, "pisei" pela 1.ª vez a pista. Organizámos uma ida ao kartódromo de Évora, que naquela época, era dos poucos que havia em Portugal. A direção era dura, o comportamento do kart era muito mais direto que um carro de estrada e eu era um autêntico cepo.
Mais tarde, num evento de apresentação do Ford Fiesta, tive a oportunidade de conduzir no Autódromo do Estoril. Estava a chover, com obrigatoriedade de manter a fila de 5 carros, muita da experiência ficou por viver.
Dias de sorte
Em 2001, tive a sorte de ficar em 2º lugar numa seleção que a revista Autohoje estava a fazer para as 24h de karting em Évora. Lembro-me que tudo me correu bem, desde a condução sem erros à toada calma por mim adotada.
Nesse mesmo ano, pisei a pista do Estoril com o meu carro do dia-a-dia, um Fiat Punto 1.2 de 85cv, que, como não podia deixar de ser, já tinha algumas “afinações” especiais. Foi num final de dia de treinos da equipa ASM Team, à qual prestava ajuda regular. E ainda hoje me lembro da sensação única que foi conduzir numa pista onde os campeões do mundo de F1 corriam.
A partir de 2002, começaram a organizar-se Trackdays de uma forma mais ou menos regular cá em Portugal. Estoril, Jerez, Jarama, Algarve, SPA e Nurburgring, foram alguns circuitos onde já tive a oportunidade de conduzir, sendo que Nurburgring está no topo no que compete a emoções!
A minha 1.ª competição
Em 2019, entrei pela 1.ª vez numa competição automóvel. Para fechar a lista de inscritos na equipa da TIS (Coimbra), fui convidado a fazer o campeonato de C1 Learn&Drive. No ano seguinte, em 2020, surgiu a oportunidade de fazer o campeonato Single Seater Series, a bordo de um Fórmula Ford 1.8 Zetec. Experiências magníficas, sendo que ficará para 2022 um regresso forte às competições a bordo deste mesmo monolugar.
Sinto-me extremamente agradecido por ter o privilégio de já ter conduzido inúmeros bons carros em pista, mas, aquele que se destaca, até hoje, foi o meu 2o Honda S2000. Lá perto, o Radical SR3, uma barqueta com um motor de apenas 1300cc, que oferece sensações únicas em pista, quando não tem um ataque repentino de velhice ?