Aos olhos de muitos de nós, portugueses, a nossa industria automóvel é resumida a uma, talvez duas marcas de pequeno ou médio sucesso. A realidade é que a nossa industria é quase tão antiga quanto o automóvel em si. Hoje, iremos abordar a criação da ALBA.
AGB e IPA... ...Micro-carros com uma grande história.
No seguimento do rescaldo da II Guerra Mundial, dá-se, por toda a Europa, uma tentativa de produção de pequenos veículos, geralmente movidos através de motores de explosão a dois tempos, com dimensões ultra compactas e peso reduzido. Este conceito, que permitia poupanças a todos os níveis, quer fossem de matéria-prima, consumo ou manutenção, garantiu que o automóvel pudesse chegar às grandes massas do início de segunda metade do séc. XX.
E o mesmo se iria suceder em Portugal.
“Um automóvel pequeno, acessível e económico, que pudesse proporcionar a uma franja de mercado de menores possibilidades, um meio de transporte rápido e seguro” foi o conceito que o empreendedor António Gonçalves Baptista usou, no ínicio da década de 50 para criar o seu microcarro, o AGB Lusito.
O AGB era composto por um motor a dois tempos de 125cc, rodas de motocicleta, e uma carroçaria característica dos anos 50, o chamado streamlining, que acaba por ser desproporcional em relação às finas rodas de motocicleta.
A segunda versão deste automóvel, mais apurada, dispunha de uma carroçaria mais proporcional, duas amplas portas, e arestas mais arredondadas, dando-lhe o aspecto de “um carro mais comum”. Este protótipo viria então a ser designado como quadricilo pela Direção Geral de Visão devido ao seu reduzido tamanho e baixa potência. O processo de homologação levou 6 meses recebendo a nota de que “nas manobras a que foi submetido mostrou estabilidade e mobilidade suficientes. Somente a comodidade se encontra prejudicada com vibrações de variam com o regime de rotação do motor.” Assim sendo, de forma a remediar as partes negativas da sua avaliação, a AGB recebeu a autorização de produção “com a condição de não fabricar motores, caixas de velocidades ou embraiagens”. Condição esta que viria a inviabilizar todo o decorrer do projecto.
A evolução entre a primeira e segunda versão do AGB Lusito.
No entanto, numa das viagens de António Baptista pelo país fora numa tentativa de demonstrar a sua criação, o Lusito sofre uma avaria em Porto de Mós. Lá, o engenheiro João Monteiro Conceição repara a viatura e exprime que ficou agradavelmente surpreendido com o veículo e até inspirado pela frustrante história do Lusito.
Assim, com essa inspiração, João Conceição decide criar o sue próprio automóvel. João baseou-se no conceito e filosofia do Lusito assim como na sua homologação falhada de forma a garantir o sucesso do seu IPA. IPA, abreviatura para Indústria Portuguesa de Automóveis. Foi então em 1956 que o projecto iniciou, usando um motor mais potente de 2 cilindros com 15cv, linhas de carroçaria mais fluidas e modernas, abandonando o ar de “caixote” do Lusito.
Em 1958 era já apresentado dois modelos do IPA 300, um coupé e um 2+2. O interior era composto por um simples assento de molas, bastante económico, um painel de instrumentos branco que dispunha de simples botões e um velocímetro com conta-quilómetros incorporado. O seu exterior era composto por uma falsa grelha de refrigeração frontal e grelhas de ar que se encontravam atrás das portas e na bagageira para sim, realmente refrigerar o pequeno motor traseiro. Outro distinto pormenor do automóvel era o uso de portas suicida, que facilitava a entrada dos passageiros, especialmente na versão 2+2 tendo em conta as dimensões do habitáculo.
Estava tudo montado para o sucesso do IPA ao ser apresentado na Feira das Industrias Portuguesas em 1958. Faltava era um pequeno apoio governamental. O IPA 300 foi recebido com um grande mediatismo e atenção do público devido ao destaque de ser feito por portugueses e para portugueses. O evento foi marcado pela presença do Presidente da República, Craveiro Lopes e Marcello Caetano.
A versão final do IPA 300 Coupé
Com esta aprovação e visita, João Monteiro Conceição esperava receber do governo, o “livrete provisório para circulação e experiências” que iria cimentar a produção em série da viatura. Tal nunca viria a acontecer. A verdade é que António Ramalho, Secretário de Estado da Indústria, se opôs ferozmente à produção do IPA, preferenciando que Portugal passa-se só pela montagem de viaturas de marcas europeias e americanas.
Assim, terminando, o projecto nacional que esteve até à data mais perto da produção em série foi o IPA. E nunca chegou à produção não por guerra, mudança de regulamentos, mas sim por decisões do governo.